Guamaré/RN – Um turbilhão se aproxima silenciosamente da cidade de Guamaré. A tempestade, contudo, não é natural. Ela nasce nas entranhas da política municipal e foi revelada por onde menos se esperava: o próprio Portal da Transparência da Câmara Municipal.
Dois processos já identificados revelam um total de R$ 1.026.000,00 pagos apenas em 2025 — sendo R$ 855 mil em um único processo, e R$ 171 mil em outro. Os registros oficiais apontam que ambos os processos foram abertos e processados neste mesmo ano. Mas há um detalhe que inquieta ainda mais: um novo empenho no valor de R$ 1.026.000,00 foi detectado, gravado como sendo de 2024. Se confirmado o pagamento, estamos diante de um gasto que ultrapassa a casa dos R$ 2 milhões.
Para quem conhece a história do município, o número assusta — e ecoa. Afinal, o maior esquema de corrupção já registrado em Guamaré, desbaratado pela infame Operação Máscara Negra, envolvia exatamente R$ 2,7 milhões. A sombra da operação, que ainda assombra o imaginário local, volta a se projetar sobre a atual legislatura.
Mas a coincidência mais perturbadora talvez não seja o valor. Os nomes. Os laços. Os vínculos. Mas, que os principais presos da Máscara Negra são… parentes diretos do atual Presidente da Câmara Municipal – Eudes Miranda. Um silêncio ensurdecedor se instalou desde que os dados começaram a circular nas redes sociais. Nenhuma nota. Nenhuma explicação. Nada. O Presidente corajoso, campeão de votos e dono de cavalos vencedores e caros, silenciou, se retraiu, se acovardou.
Porém, o silêncio começa a ruir.
Uma fonte interna da Câmara, com acesso privilegiado, revelou sob reserva uma engrenagem oculta por trás dos Jetons milionários. Segundo ela, os beneficiários estariam ligados diretamente à presidência da Casa e fariam parte de comissões, tanto permanentes quanto temporárias:
“Trata-se de uma comissão de qualidade, instaurada por servidores efetivos para conferir ares de legalidade. Porém, a farra dos Jetons se estende a membros de comissões temporárias”, afirmou. “Existe uma liderança nesse processo, alguém que consegue orquestrar uma trama, na qual o Presidente autoriza, assina embaixo e de forma consciente. Que fique claro, essa história toda existe um pai, um padrasto e um espírito santo, alguém que funciona como um anjo negro, que se diz invencível, um idealizador, alguém que pensa, executa e manipula.”
As palavras, carregadas de simbolismo e tensão, revelam não apenas uma possível estrutura de favorecimento interno, mas algo ainda mais sombrio: um esquema meticulosamente planejado, que pode envolver servidores, lideranças políticas e o próprio topo da hierarquia da Casa Legislativa.
Convém ressaltar que o pagamento de gratificações na esfera da Casa Legislativa não representa novidade. Tal prática já se verificava durante a gestão do atual Presidente da Câmara, especialmente nos anos de 2019 e 2020, quando uma chamada “comissão temática” recebeu, de forma concentrada, o montante de R$ 258.100,00, distribuído entre apenas 9 (nove) servidores. Esse episódio lança dúvidas relevantes sobre os critérios adotados, a equidade na distribuição de recursos e a responsabilidade administrativa que deveria nortear a condução dos atos públicos.
Para se ter ideia, um único servidor, por ter participado de atividades nos dias 10, 12 e 17 de dezembro de 2019, e 1º e 2 de janeiro de 2020, teria recebido a expressiva quantia de R$ 33.400,00 — valor que, diante da brevidade do período, suscita questionamentos sobre proporcionalidade, justificativa técnica e transparência no uso dos recursos públicos.
Importante frisar, que as revelações do servidor incluem uma informação técnica relevante e desafiadora: todos os processos da Câmara tramitam exclusivamente por meio digital, via sistema 1Doc. Assim, quem requere tem que entender que, qualquer documento físico — carimbado, assinado ou protocolado manualmente — tem indício de irregularidade:
“Se aparecer documento assinado ou carimbado, pode desconfiar, pois quem tem um processo digital há mais de 3 anos, não gera documento físico. Tudo na Câmara é eletrônico, quem disser o contrário mente.”
A pergunta que reverbera entre os quatro cantos da cidade é: como uma Câmara de um município marcado por carências sociais e estruturais consegue pagar valores milionários em verbas indenizatórias? Quem está por trás dessa rede de pagamentos silenciosos? Quem autorizou? Quem recebeu?
As peças começam a se mover no tabuleiro político de Guamaré. E, se o passado serve de alerta, os fantasmas da Máscara Negra estão longe de ter sido enterrados.
Acompanhe as próximas publicações. Uma nova tempestade política pode estar apenas começando.