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O ESCÂNDALO DE GUAMARÉ: CONTRATAÇÕES ILEGAIS E ABUSO DE PODER ABREM CAMINHO PARA CASSAÇÃO DE HÉLIO E MARCICLECIA

 

As eleições municipais de 2024 no Rio Grande do Norte estão sendo marcadas por uma série de decisões enérgicas da Justiça Eleitoral, que já resultaram na cassação de mandatos de prefeitos em diversas cidades. O motivo recorrente é o abuso de poder político e econômico, uma prática que consiste no uso da máquina pública para desequilibrar a disputa eleitoral e garantir vantagens indevidas. Os casos de Lajes, Francisco Dantas e Maxaranguape criaram uma jurisprudência que agora lança uma sombra de incerteza sobre o futuro político de Guamaré, onde uma complexa teia de irregularidades é investigada.

O abuso de poder público se caracteriza pelo uso da estrutura administrativa em favor de uma candidatura, seja do próprio gestor ou de um aliado. Essa conduta fere o princípio da isonomia entre os candidatos e compromete a legitimidade do resultado das urnas.

 O Precedente: Cassações em série no Estado

As recentes decisões judiciais demonstram a intolerância com o uso indevido de recursos públicos para fins eleitorais:

 O caso Guamaré: uma teia de irregularidades

 Enquanto essas decisões se consolidam, o caso de Guamaré surge como o mais complexo e potencialmente explosivo. A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) que tramita na 30ª Zona Eleitoral de Macau não aponta para uma única irregularidade, mas para um conjunto de fatores que indicam uma intervenção flagrante da máquina pública em favor do grupo familiar que venceu as eleições.

A investigação concentra-se na administração do ex-prefeito Arthur Teixeira, sobrinho de Hélio Willamy, cuja atuação à frente da Prefeitura de Guamaré teria sido decisiva para favorecer diretamente a candidatura de Hélio e Marciclecia Rodrigues. Segundo os autos, Arthur teria transformado a estrutura pública em uma engrenagem eleitoral, criando condições artificiais que impulsionaram a chapa familiar rumo à vitória — uma vitória agora sob forte contestação judicial.

Os dados públicos reunidos na ação judicial revelam um cenário preocupante — embora não surpreendente. Afinal, o próprio Hélio Willamy, ainda em campanha, já havia sinalizado sua postura ao declarar no palanque que estava disposto a “topar qualquer parada”. A frase, longe de ser apenas retórica eleitoral, parece ter se materializado em práticas que agora são alvo de investigação por suposto uso indevido da máquina pública para influenciar o resultado das eleições.

A farra das contratações temporárias e comissionadas:

 No ano eleitoral, a prefeitura realizou contratações massivas sem justificativa legal.

 Explosão de despesas e irresponsabilidade fiscal:

Documentos revelam picos de despesas sem justificativa administrativa aparente.

Guamaré em números: uma realidade alarmante

Uma análise comparativa com municípios de porte populacional superior escancara a desproporcionalidade da folha de pagamento de Guamaré durante o ano eleitoral. Os dados revelam que, mesmo com uma população significativamente menor, o município apresentou gastos com pessoal que superam — e em alguns casos, ultrapassam em larga escala — os de cidades maiores e mais complexas administrativamente. Essa disparidade reforça os indícios de que a máquina pública foi utilizada de forma estratégica para favorecer interesses eleitorais, inflando contratações e nomeações em ritmo acelerado e sem respaldo legal:

MUNICÍPIO HABITANTES CARGOS EFETIVOS CARGOS COMISSIONADOS CONTRATOS TEMPORÁRIOS
GUAMARÉ 15.295 680 655 1108
SÃO PAULO DO POTENGI 16.786 310 229 253
AREIA BRANCA 24.093 284 75 215
MACAU 27.369 717 220 165
ASSU 56.496 888 411 400
CEARÁ-MIRM 79.115 980 314 557

O contraste com o município de Assu é escandaloso. Mesmo contando com uma população 71,74% superior à de Guamaré, Assu mantém 63,89% menos servidores temporários em sua estrutura administrativa. Essa disparidade expõe com clareza o inchaço da máquina pública em Guamaré durante o ano eleitoral, sugerindo uma estratégia deliberada de uso de contratações como moeda política — prática que, além de desequilibrar o pleito, levanta sérias suspeitas sobre a legalidade e a moralidade da gestão.

Perseguição, demissões em massa e compra de apoio:

Além dos dados fiscais que já indicam um cenário de desequilíbrio administrativo, a ação judicial traz à tona indícios ainda mais graves: relatos de perseguição política a servidores, inclusive com supressão de vantagens, direitos e frustrações com promessas de emprego não cumpridas.

Inclusive, logo após o encerramento do processo eleitoral, registrou-se uma onda de demissões em massa, atingindo principalmente servidores contratados temporariamente nos meses que antecederam o pleito. A movimentação, marcada pela abrupta descontinuidade de vínculos, expôs uma estratégia deliberada de desmobilização da máquina pública, sugerindo que as admissões não se fundamentavam em demandas reais de serviço, mas sim em interesses eleitorais. A coincidência entre o resultado exitoso nas urnas e o desmonte imediato das estruturas reforça a suspeita de que tais contratações serviram como instrumento de influência política, comprometendo a transparência e a legitimidade do processo democrático.

Em gravações que fundamentam a denúncia — um interlocutor afirma que as eleições só são vencidas por Hélio “porque ele tem dinheiro”, revelando não apenas o sentimento de traição entre aliados, mas também uma percepção generalizada de que o poder econômico foi decisivo para o resultado das urnas. Esses elementos reforçam a tese de que houve abuso sistemático da estrutura pública em favor da candidatura, comprometendo a legitimidade do processo eleitoral.

COMENTÁRIO DA REDAÇÃO

Não há justificativa legal ou administrativa conhecida que embase o aumento exponencial de despesas com pessoal em Guamaré precisamente no ano eleitoral. Fatores como a queda de popularidade e os baixos índices de aprovação do governo podem ter motivado o uso agressivo da máquina pública, que se refletiu nas urnas de forma paradoxal: Hélio Willamy venceu com uma minoria de 41,16% dos votos (5.617), enquanto a maioria do eleitorado, 58,84% (8.031 eleitores), escolheu outras candidaturas.

A comparação com os casos de Lajes, Francisco Dantas e Maxaranguape é inevitável e coloca o destino político de Guamaré sob forte risco. As condutas investigadas na AIJE — inchaço da folha de pagamento, criação de cargos ilegais e picos de despesas injustificadas — são análogas às que levaram à cassação dos outros gestores.

O risco de cassação da chapa é concreto e ganha força diante de um volume expressivo de dados públicos que evidenciam o desequilíbrio no pleito municipal. Como dito, somente em 2024, mais de 1.000 contratações temporárias foram realizadas sem respaldo legal ou justificativa de excepcional interesse público, além de um aumento nas despesas com pessoal que ultrapassa os R$ 10 milhões. Diante desse cenário, o futuro político de Guamaré está, agora, nas mãos da Justiça.

Os próximos desdobramentos judiciais serão decisivos, e a queda da chapa Hélio Willamy e Marciclecia Rodrigues — fruto da união dos outrora opositores — pode estar cada vez mais próxima.

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